RESPOSTAS

Queridos,

Quero agradecer a todas as manifestações de pesar pela partida do Kasamba e a solidariedade com os problemas que venho enfrentando. Podem ter certeza de que esse carinho é uma das coisas mais importantes para mim agora.

Kasamba foi mesmo um grande companheiro e um ser muito especial. Era um grande líder, como um líder deve ser; soberano, tranqüilo, seguro, um chefe sem nenhuma agressividade, educadíssimo e um doce. Porem absurdamente firme quando necessário. defendeu sua matilha, canina e humana com honraria. Foi meu primeiro Rhodesian Ridgeback da vida e desde 1994, nunca mais saí da raça. Espero que eu tenha sido para ele o mesmo que sempre foi para mim.

                  

Na votação o que ganhou foi em vez de escrever, falar. Ok. Vou providenciar, o mais rápido possível, essa tecnologia para satisfazer a maioria. Não sabia que minha voz era tão querida.

Por falar em tecnologia, ela é mesmo impressionante e quando conseguirmos alcançar a velocidade da luz, aí ninguém mais segura os terráquios. Valeu a dica mandada pela Miriam Leobino sobre como foi feito, parte dos efeitos do filme O Curioso Caso de Benjamin Button e quero compartilhar com vocês.

Mas prometam que verão o filme antes de verem como é feito, por favor. Tudo pela fantasia, sempre!

 

E por falar em fantasia, Marianne, não li o artigo da Revista Época que você mencionou, mas se o assunto é mulheres x desejo, vamos tentar discutir alguma coisa.

Quer dizer que a Fernanda Young diz, que as mulheres escondem, até delas mesmas, suas preferências sexuais?

Concordo e discordo. Como sou uma pessoa que não escondo absolutamente nada dos meus desejos e preferências sexuais, pois acredito que tarado é um ser normal pego em flagrante e como o ser humano tem a tendência de julgar o outro a partir dele mesmo, deveria discordar, mas como sou uma pessoa que sabe que nem todos têm essa liberdade que me propus ter na vida, concordo com ela.

Também temos que pensar como a mulher sempre foi subjugada, educada para não ter desejos próprios, nem liberdade de ação e que sempre foi criada para ser a responsável, única, de manter aquela casa e família dentro de padrões religiosos super moralistas e caretas, onde não cabe autonomia sexual. Até hoje em dia, mulheres são mutiladas ou infibuladas em muitos países pelo mundo, creiam.

Para se falar de um assunto como esse de forma generalizada, temos que pensar de forma global. Pensar no que acontece, não só nas sociedades que, em sua educação, já dão o direito de suas mulheres exprimirem seus desejos abertamente, mas falar daquelas que nem podem falar sobre sexo dentro de casa.

Ainda nos dias de hoje existem mulheres que têm medo de exigir o uso da camisinha. Pode um negócio desses? Se elas têm medo de falar sobre isso, imagina falar como gostam ou não?

Quanto ao desejo de ser violentada, não vejo nada demais. Não gosto, mas não me incomodaria de fazer a vontade de alguém que tenha esse desejo. Desejo, fantasia, delírio, vontade ou nome que você queira dar a isso, é absolutamente natural. Você sabe que no dicionário Aurélio, a definição para tara é defeito moral?

Que droga é essa de defeito moral? Para mim, se não for masoquismo (em último escala, com sangue etc.), cacofagia ou necrofilia e principalmente zoofilia, o resto é normal. Apenas você tem que definir o que lhe dá prazer e o que você pode dar de prazer sem lhe incomodar. Às vezes pode-se até descobrir algo novo. Experimentar sempre. Essa é a fórmula, você não acha?

Prometo que vou tentar encontrar a matéria e depois discutir melhor sobre o assunto.

A Miriam também me pediu para falar sobre figurino. Esse é um assunto que posso opinar muito pouco. Sou muito conservadora e meu estilo é a melhor invenção do mundo da roupa, o jeans. E a velha bota, que não abro mão de usar. O chapéu eu já não uso com tanta freqüência, apenas na fazenda, mas a bota não sai do meu pé. Mesmo com calças de seda.

Posso falar sobre figurino de filmes, mas nesse aspecto, no filme Benjamin, apesar de ser muito bem feito, não foi o que mais me chamou atenção.

Marcelo, de fato, você está coberto de razão em dizer que as pessoas nesse mundo de agora só valem o que tem. As pessoas compram coisas que nunca irão usar e acumulam tantas porcarias e depois nem sabem como se desfazer delas. A isso deram o nome de capitalismo, que incentiva o consumismo exacerbado.

Isso nos faz pensar também na futilidade que impera. As pessoas estão cada vez mais ignorantes e isso é o mais triste. Quem tem com o que se ocupar mesmo, não tem tempo para compras desnecessárias.

Paul Henry quer que eu fale sobre o ser humano. Acho que você vai gostar de assistir minha peça, Usufruto. Quando escrevo dramaturgia, gosto de escrever sobre relações humanas. Não deixe de assistir quando estrear. Vou esperar por sua crítica.

Ativismo sempre será recorrente, pois não consigo ser de outra forma.

Me pediram para falar sobre fé e budismo, então vou deixar vocês com um pensamento. Podemos discutir sobre ele?

“Estudar o Caminho é estudar a si próprio. Estudar a si próprio é esquecer-se de si próprio. Esquecer-se de si próprio é tornar-se iluminado por todas as coisas do universo. Ser iluminado por todas as coisas do universo é livrar-se do corpo e da mente de si próprio, bem como o dos outros. Até mesmo os traços da iluminação são eliminados e vida com iluminação, sem traços, continua para sempre.”

Dogen no Genjōkōan (現成公案)

 

ELTON OU BENJAMIN

Cheguei ao Rio, de onde estava longe desde dezembro do ano passado, com quatro dias antes do show do Elton John.

Já tinha me comprometido a ir e inclusive, havia convidado umas amigas que moram na Paraíba para irem comigo.

Assim que cheguei encontrei meu velho companheiro Kasamba (meu cão mais velho) com um desconforto. É o famoso olho do dono. Ninguém estava reparando nada. E no dia seguinte a minha chegada, ele já tinha piorado muito e o diagnóstico foi dado, megaesôfago. Doença que, para um ser da idade dele, não tem jeito mesmo.

Foram quatro dias ao seu lado sem pestanejar e dedicando toda a minha atenção àquele que dedicou seu amor a mim, sem restrições e economia, por treze anos. Infelizmente ele não está mais entre nós.

Não preciso dizer o quanto isso me entristeceu. Estou passando por problemas muito sérios e minha impressão é que o Kasamba deu sua parcela de ajuda, pegando uma grande parte dessa energia ruim.

Agora chega. Definitivamente, chega. Acabou e vira-se mais uma página.

Todos os amigos fizeram muita pressão para que eu não mudasse a minha agenda e fosse assistir ao show do Elton John.

Assim que cheguei, fui interceptada por um repórter para fazer aquelas mesmas perguntas de sempre:

  • Você gosta do Elton?

O que eu estaria fazendo num show de alguém que eu não gostasse?

  • O Elton sempre foi um extravagante no palco. Você sabe que ele não é mais assim, que você não vai encontrar aquele sujeito que pula em cima do piano e faz acrobacias, não é?

Sou daquelas que entende que as pessoas mudam, que elas vão caminhando e mudando. Ainda bem. Alias, adoro quem não tem medo de mudanças e aceita as que vêm naturalmente. Eu não gosto de um artista plástico, por exemplo, que só faz a mesma fase a vida inteira. Existem, eu não admiro. Não vamos esperar que um artista como Elton John fique querendo ter 20 poucos anos toda sua existência. Tudo muda e não devemos viver numa escravidão do que você foi e que tem que continuar sendo. Eu não tenho mais aquele corpo dos meus 20, 30 anos. Não sou mais a mesma pessoa, amadureci, graças a Deus e embora eu não seja um exemplo dessa ditadura da beleza sílfide que foi implantada no mundo, me sinto muito feliz da forma como cheguei aos meus 50 anos. Essa mania do brasileiro de que todo mundo tem que ficar igual para sempre é uma chatice. Deve ser para compensar sua falta de memória. E para o governo de todos, ele subiu no piano, sim.

  • Agora a pior das perguntas e que nunca falha, qual a música que você gosta mais?

Essa para mim é a pior mesmo. Nunca decoro nome de música. Sou capaz de cantar a música inteira, mas não decoro o nome. Nem das músicas que eu componho. Então tenho que ficar fazendo aquele papel ridículo de ficar cantarolando para alguém, dizer o nome da música. Um saco.

Agora quero fazer uma pergunta aos jornalistas, por que vocês têm mania de fazer entrevista antes do show? A gente vai poder dar uma entrevista muito melhor e com mais emoção depois de ter visto ao show. Acho que eles todos ficam loucos para se livrarem da obrigação e irem embora mais cedo. Deve ser isso.

Jornalistas (e eu sou uma também) a parte, o show foi lindo e ele foi um cavalheiro com os cariocas. Aliás, um verdadeiro Sir que é mesmo.

Em primeiro lugar, começou o show, como um bom britânico, exatamente na hora em que estava marcado para começar. Coisa que, definitivamente, nós brasileiros não estamos acostumados. Chegou vestindo sua casaca habitual e num calor enlouquecedor como só no Rio é capaz de fazer, ele tocou e cantou o show todo, sem tirá-la. Eu e meu amado amigo Eduardo Galvão, apostávamos em que música ele não mais suportaria o calor e tiraria a casaca. Minha amiga Lurdinha estava certa, Sir não tira casaca antes da festa acabar.

Parabéns pelo lindo show Sir Elton John e obrigada pela delicadeza, profissionalismo e genialidade.

Fui também, essa semana, assistir ao filme Benjamin.

Fiquei muito impressionada com os efeitos especiais e adoraria ver o making off dessas filmagens.

Você fazer uma maquilagem para o Brad Pitt ficar feio e velho, embora pareça difícil, não é. Tudo bem. Agora mudar o corpo dele é incrível.

Queria entender como aquilo foi feito.

O filme é lindo, muito triste e lindo. A temática interessantíssima. É um Dorian Gray ao contrário.

O sujeito nasce com uma doença e a vida em vez de começar com 1 dia de nascido, começa com 80 ou mais anos de idade. Ele nasce com catarata, artrose violenta, degeneração em diversos órgãos, todo enrugado e com o cabelo ralo e caindo, não nascendo.

O caminho é feito ao contrário e ele vai rejuvenescendo até morrer um bebe muito frágil.

Claro que nesse caminho ele descobre o amor e conseqüentemente a enorme dor de não poder viver esse amor, e, por quê? Simplesmente porque, as pessoas ao seu redor envelhecem.

Isso faz a gente pensar mais uma vez nessa busca desenfreada pela juventude eterna. Esse filme vem trazer à tona, justamente, a discussão sobre, envelhecer. Faz parte da vida sim e a gente tem que ver o outro lado que ela nos traz.

Adorei o enredo e adorei o filme. Embora muitas vezes inverossímil é muito interessante mesmo. Recomendo.

Agora quero fazer uma proposta, gostaria que vocês me dissessem sobre o que gostariam que eu escrevesse aqui? Não quero ficar afastada do blog e adoraria que me dissessem o que gostariam de encontrar por aqui.

Se forem contos, de que natureza? Se forem opiniões, sobre o que? Assunto, qual?

Vamos fazer essa parceria?

Lúcia Veríssimo

João Pessoa, 29 de janeiro de 2009.

 

HENFIL

Saldemos todos, a nova ganhadora da mais importante premiação brasileira.

Salve Graúna, que se dedicou ao máximo e que sobretudo obteve inesgotável apoio e recursos irrestritos para alcançar esse patamar incrível.

DISCRIMINAÇÃO

Quero novamente  poder rediscutir a velha contenda sobre preconceito.

Desde que comecei a escrever meu blog, há tantos anos, o assunto mais recorrente é justamente preconceito, discriminação.

Mesmo antes do blog, esse assunto já fazia parte de declarações que fiz em entrevistas. Sou talvez, a atriz que mais discute esse assunto e lá se vão 25 anos desde uma entrevista que dei que assumia minha posição no mundo, sem medo e hipocrisia.

Parece que foi ontem em todos os sentidos. Primeiro que o tempo está disparado mesmo e em segundo porque vejo pouca mudança para o tempo que tivemos para mudar alguma coisa.

Em certos momentos de visão, acho mesmo que regredimos e muito.

Quanto tempo mais ainda vai ser preciso para que a compreensão e respeito ao próximo se faça por completo?

Sim, porque a discriminação é, antes de mais nada, um terrível desacato.

Esse é um tema que podemos estender a diversos assuntos, pois a tudo se aplica.

Se aplica ao descaso desumano com os animais; a ignorância das diferenças sociais e culturais; a desprezível homofobia; o execrável patrulhamento religioso; a falta de compreensão do que significa, realmente Deus e sua magnitude, fazendo com que, muitas vezes, Ele apareça de vilão na voz de papas, aiatolás, pastores, rabinos etc.. Não estou dizendo com isso que não existam sacerdotes que queiram mudar e se desvencilhar do pior que a religião faz, que é justamente a segregação. Pode parecer que sou contra as religiões. Não é assim. Sou contra um Deus que culpa, persegue e castiga, só pelo fato de que esse Deus foi criado pelo homem. Para melhor poder doutrinar. Assim como fazem os políticos que insistem em não dar aos seus povos educação, que é a maior arma de um povo. A única arma da paz.

Deus é muito maior do que a maioria nos faz crer. É dignitário do maior conhecimento, pois foi criador de todo o Universo. É a energia propulsora de toda essa imensa engrenagem e não se atearia a pequenas traduções equivocadas do amor.

Ele foi quem nos deu a capacidade de usufruir desse sentimento. A pena está justamente em quem, baseado em informações disléxicas, esquece que somente a prática absoluta do amor é que nos dará a capacidade real de crescimento. O amor é antes de tudo, um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, indiferente da cor, religião seguida, posição social, gênero (animal, vegetal ou humano) e principalmente das escolhas que fazem.

O que fazem os ignorantes que acreditam que suas regras é que construirão um mundo melhor, se a educação dada as suas crianças derrubam absolutamente tudo?

Como fazer um mundo melhor se não conseguimos enxergar os seres vivos pela sua alma?

Por que insistimos em não usar um veiculo como a televisão, que ainda é o maior veículo de penetração de massas, para mudar esses conceitos?

Por que não se tem coragem e honestidade para fazer isso?

Por que deixar que esses padrões, que já provaram infinitas vezes suas ineficácia, continuem valendo?

Como aceitar que o mundo ainda eduque crianças dessa forma? O que serão delas e o que será do mundo?

Qual a sua responsabilidade? Já experimentou alguma mudança concreta ou está confortável na sua posição alienada?

Rio de Janeiro, 07 de dezembro de 2008.

TARDA, MAS NÃO FALHA

Acompanhei de perto o julgamento de O J Simpson nos EUA, em 1995, pois estava por lá.

Como torci para que ele tivesse sido preso e pagasse pelo crime, que tudo fazia crer que tivesse praticado e ele negava peremptoriamente.

Estava mais do que na cara que ele havia matado sua mulher e o amigo dela. Mas a promotoria não conseguiu colocar o delinqüente atrás das grades.

Qual não foi minha surpresa hoje, quando abri o Los Angeles Times e lá estava a justiça, de alguma maneira, sendo feita.

Pode não ter sido pelo crime cometido, mas por outro, o que vem confirmar a má índole desse sujeito. Foi condenado a 15 anos de prisão por assalto. Ele ainda tentava se defender, dizendo que estava apenas recuperando o que lhe pertencia. Só que o que pertencia a ele não estava na sua casa.

Acho que a isso dão o nome de justiça divina. Eu acho mesmo que é justiça. Ele não presta e está dando mais uma vez, provas disso.

Aí fiquei pensando: Ah! Se essa moda pega…

Será que conseguiríamos botar a mão no monte de corruptos que fogem pela tangente?

Pagá-los cometendo crimes diferentes daqueles que eles foram inocentados?

Aí pensei novamente: é muito bom para ser verdade, pois são imunes, não é?

Existe a tal “IMUNIDADE PARLAMENTAR” que deveria ter a alcunha de “RESISTÊNCIA A DECÊNCIA E AO PUDOR”.

Até 2001 essa imunidade servia para acobertar estelionato, sonegação de imposto, tentativa de assassinato, atitudes suspeitas, escusas e criminosas de alguns parlamentares, que se consideravam acima da lei. Agora não é mais assim não, eles tem que ter uma autorização para serem liberados de um processo. Mas essa solicitação tem de receber o apoio de 257 deputados ou 41 senadores.

O que no final, acaba dando no mesmo, não acham?

Rio, 05 de dezembro de 2008

DESRESPEITO A VIDA EM SANTA CATARINA

É impressionante como os seres humanos continuam não tendo respeito por forma de vida que não seja a deles próprios.

Com esses horríveis acontecimentos da tragédia de Santa Catarina, o Brasil se mobilizou para que fossem amainadas as dores de tantas famílias em situação de total prejuízo e dor.

Tenho a impressão de que, sendo o nosso povo um sofredor com bastante conhecimento, tem essa característica de solidariedade mais presente que em outros povos. É bacana de ver como todos, independentes de sua condição social (aliás sendo uma prática muito mais comum nas camadas mais baixas da sociedade), se mobilizam para ajudar em momentos complicados como o que estão vivendo os catarinenses.

Assim foi em diversos acidentes que já presenciamos, em campanhas de cobertor na época de frio, em “crianças esperança”, em “natais sem fome” etc.

Pode observar que se alguém cai na rua, tem sempre outro alguém para ajudar imediatamente.

Cansei de ver situações como essas em países do primeiro mundo, e, as pessoas que caíam, ficavam a mercê de ajuda dos órgãos públicos, pois os outros passavam, literalmente, por cima sem nem olhar sequer.

Porem fico assustada com o descaso em relação a outros seres com tanta vida como nós.

Quero crer que ainda verei os brasileiros tendo carinho, respeito e dedicação aos seres de outra espécie. Quem sabe um dia, com mais educação…

Foi bestial e desnaturado o resgate feito e acompanhado pelas câmeras do programa do Datena, em que a Defesa Civil de Santa Catarina, se recusava a resgatar os animais.

É quer dizer que animais não sentem absolutamente nada, fome, frio, dor, sede, medo e nem saudade de seus familiares, não é?

Largados a própria sorte sem saber o porque de terem sido abandonados, já que dedicaram suas vidas àqueles que a natureza os fez acreditar que seriam sua família.

É mesmo muito triste assistir essa forma bárbara e cruel como são tratados os animais nesse país.

Essa semana vi, em João Pessoa, um cavalo, puxando uma carroça com pneus de carro estrutura de metal, muitas vezes superior ao peso que ele estaria apto a carregar, mais o dono em cima ( claro que munido de um forte chicote), e carregando o material que gera dinheiro para seu algoz. Ele tinha as orelhas cobertas de carrapatos, com pedaços já caídos e o que restava pronto para cair a qualquer momento. O nariz quebrado em várias partes por ter que suportar cabrestos que não foram feitos para ele e que tinham estruturas de metal. Imaginem a força que esse homem usava contra o focinho desse animal, que estava ali, apenas para servi-lo, humildemente submisso. Parei, desci do carro em que estava, conversei longamente com o sujeito responsável por essa atrocidade e ele me olhava como se eu fosse uma louca de estar defendendo apenas um cavalo.

Meu Deus, que terrível é o ser humano.

Quero apresentar e dar o meu apoio a RESA-Rede Catarinense de Solidariedade aos Animais e pedir que vocês visitem esse end. para saber como poder ajudar, se assim acharem que devem:

http://ecosul.wordpress.com/2008/12/01/sos-animais-santa-catarina/

CAPITAL DA PAZ

Tive a honra de ter sido convidada para o II Congresso Brasileiro pela Paz, onde João Pessoa terá a feliz responsabilidade de ser a capital da Paz.

É realmente, uma cidade com possibilidades imensas para abrigar um projeto como esse.

Abaixo está, na integra, o meu discurso feito ontem, no encerramento do evento e aproveito também para colocar o filme que o maravilhoso amigo Washington Olivetto fez para a Paz.

“Como escreveu Hermam Hesse:

A PAZ NÃO É UM ESTADO PRIMITIVO PARADISÍACO, NEM UMA FORMA DE CONVIVÊNCIA REGULADA PELO ACORDO. A PAZ É ALGO QUE NÃO CONHECEMOS, QUE APENAS BUSCAMOS E IMAGINAMOS. A PAZ É UM IDEAL.

E o que é o ideal?

É a síntese de tudo a que aspiramos, de toda a perfeição que concebemos. Aquilo que é objeto da nossa mais alta aspiração intelectual, estética, espiritual, afetiva, ou até mesmo de ordem prática.

Se o que aspiramos é a perfeição, a perfeição está na paz. É a PAZ.

O que mais atualmente vemos, infelizmente, é justo o contrário do que representa a PAZ.

Lutas, violências, perturbações sociais, total falta de tranqüilidade pública, discórdia por todos os lados, desarmonia.

A desestrutura da família como o principal pilar da sociedade. A família que tem como responsabilidade e primeira obrigação, na minha opinião, a formação do caráter de uma pessoa, o modo de ser de um indivíduo, sua índole, sua natureza, seu temperamento. Dar a ele os instrumentos necessários para que possa nortear sua existência na busca de um mundo melhor e mais justo.

E o que temos encontrado são pais jogando filhos pelas janelas, trancando-os em porões e enchendo-os de mais filhos, em relações incestuosas, pais que vendem suas filhas à prostituição, pais que ensinam seus filhos, desde muito cedo, a se erotizarem em vergonhosas “danças da garrafa”.

E esses exemplos vêm atrelados a total falta de educação a qual nós estamos afundados.

Essa semana, foi divulgado o relatório da UNESCO que mostra o nível educacional brasileiro e estamos no “confortabilíssimo” patamar de ser o segundo país da América Latina com maior número de repetências em escolas. Deve ser por essa razão que querem que exista uma lei onde não mais crianças poderão repetir ano, mesmo que suas notas não as aprovem.

Que maravilha de solução, não?

A educação e a cultura são para mim, a única forma de estruturar uma sociedade de forma correta e digna.

Como falar da PAZ sem que possamos formar indivíduos sem essas estruturas garantidas?

Sabemos que a forma mais fácil da criminalidade se fixar é através da favelização. E como terminar com ela sem educação?

Como dar oportunidades para que nossas crianças saiam desse círculo vicioso a que estamos enquadrados, sem uma educação decente?

E é esse, justamente, o ponto principal que devemos nos ater para que possamos ter nosso ideal de um mundo melhor implantado.

Meu avô, pai de meu pai,  é paraibano e isso sempre me deu muito orgulho. É atávico em mim o amor pela Paraíba. Devo trazer na minha lembrança emotiva a ligação com esse Estado, de muitas vidas que me antecederam.

Há mais de 2 anos venho tendo um contato mais próximo com a Paraíba e esse ano comecei a procurar casa aqui. Queria ter também um ponto na Paraíba para poder vir com mais freqüência.

Comecei a falar no Rio, onde nasci e moro, sobre o quanto a Paraíba é especial.

Nesse último dia das mães, decidi trazer a minha mãe, uma carioca nata, para passar o fim de semana comigo aqui. Chegamos muito tarde – pois todo mundo sabe, que as companhias aéreas não facilitam muito a vida de quem vai e vem à Paraíba – e ela não viu nada no dia que chegou. No dia seguinte, coloquei-a num carro e comecei a passear pela orla, primeiro indo em direção ao extremo oriental, justo aqui ao lado. O que ela mais comentava durante todo o trajeto, era: Lúcia minha filha, como é limpa essa cidade, como é tranqüila…

O que mais eu comento sobre João Pessoa é que, como ainda não teve seu potencial turístico totalmente explorado, essa cidade tem a chance real de ser, num futuro bem próximo, o maior exemplo de turismo moderno e bem estruturado, já que a Paraíba pode acertar prestando atenção nos erros cometidos por seus vizinhos como o Ceará e Pernambuco, que estão completamente destruídos.

Prestando atenção no meio ambiente e formando pessoal para um mercado de trabalho com preocupação na NÃO DEVASTAÇÃO, com leis bem plantadas para um desenvolvimento sustentado, com propagandas institucionais dando exemplos de não desperdício da água, reaproveitamento do lixo com reciclagem, não desmatamento, não ao lixo derramado em terrenos baldios e principalmente nos rios e no mar, enfim, diversos exemplos que resultam de uma “bela educação”.

Qual não foi minha surpresa, quando, há 4 semanas, duas amigas minhas daqui, tiveram cada um dos seus estabelecimentos comerciais atacados, no mesmo dia.

Foram dois ataques monstruosos e em um deles, mesmo com os clientes e funcionários obedecendo todas as ordens dadas pelos assaltantes, tiros eram dados como se estivessem brincando de filmar um faroeste.

Traficantes do Rio já descobriram esse oásis que é a Paraíba e aqui estão implantando seu modus operandi. Todos sabem disso, não é nenhuma novidade. Então, aqui fica o alerta de uma carioca que sofre em ver sua cidade completamente a mercê do crime e sem um pingo de PAZ.

O RESPEITO A LEI ASSEGURA A PAZ DE UMA COMUNIDADE.

Mas não quero nesse momento falar do que está errado e sim poder falar que depende apenas de nós fazermos um trabalho para reverter essa situação.

DE CADA UM, INDIVIDUALMENTE, FAZER UM ESFORÇO PARA A IMPLANTAÇÃO DE UM IDEAL DE PAZ.

É pensarmos do micro para o macro. Começando em nossas casas. Ensinando seus filhos, funcionários, parentes, amigos e com isso alcançar o macro.

Quero parabenizar ao Almir Laureano pela iniciativa de promover esse II Congresso Brasileiro pela Paz e dizer que apoio integralmente a escolha de João Pessoa como sendo a capital da PAZ. Exatamente por ser um solo fertilíssimo para implantação de um projeto grandioso como esse.

E aproveito para lembrar também, que a Paraíba foi definitiva na revolução de 1930, com seu apoio a Aliança Liberal e pode ser, quase 80 anos depois, responsável pela revolução pela PAZ.

Vamos todos juntos honrar ainda mais a bandeira paraibana e dizer NEGO A VIOLÊNCIA, NEGO A FALTA DE CULTURA E EDUCAÇÃO, NEGO A FALTA DE PAZ.

Termino essa minha conversa com vocês lembrando o historiador Tito Lívio, que nasceu antes de Cristo e escreveu em seu livro “A História de Roma” que:

CABE A QUEM DÁ, NÃO A QUEM PEDE, DITAR AS CONDIÇÕES DE PAZ.

E aproveito para apresentar um comercial criado pelo gênio da propaganda e meu grande amigo, o brasileiro Washington Olivetto.

O meu muito obrigada a todos e conte sempre comigo Paraíba.”

A PAZ – Washington Olivetto

 

João Pessoa, 01 de dezembro de 2008.