ESSE ENORME FAROESTE

Estou, mais uma vez, em falta com meu blog. É a correria de sempre.

Tem um monte de coisas que quero comentar e nem sei por onde começar.

Me pediram para fazer um comentário sobre o manifesto do Pedro Cardoso. Já ficou ultrapassada essa conversa toda e já deu o que tinha que dar, na minha opinião. Mas acho que existem coisas muito mais “pornográficas” que a nudez.

Podemos voltar ao assunto se assim vocês acharem que devemos, mas acho isso tudo uma grande bobagem e caretice.

Queria poder falar de alguns espetáculos que estão em cartaz e que me impressionaram e vou fazer isso, falando de cada um especificamente.

Mas hoje quero mais uma vez falar das nossas responsabilidades com o planeta Terra e o que podemos fazer para ajudá-lo nesses duros e agonizantes tempos de enfermidade.

Fico impressionada com a quantidade de carros que andam nas ruas. Sempre ouvi sobre o trânsito de SP e como estou sempre por lá, posso constatar o desespero de quilômetros de engarrafamento. Mas SP tem uma característica, você, normalmente, sabe a hora e o local em que vai se dar esse engarrafamento. O Rio de Janeiro não. Está absurdo o trânsito no Rio. Muito pior que em SP, sem comparação. Não existe critério. A qualquer hora em qualquer lugar pode dar um nó de se enlouquecer.

Fora a falta de educação do carioca somada ao abuso das vans, a coisa está caótica.

Então fico pensando, por que cada um não toma uma atitude de mudança.

Sei que não temos uma política para transporte bacana e isso vai ser muito difícil mesmo. Mas podemos mudar nossos hábitos para ajudar, não só o trânsito, como nosso bolso e principalmente o meio ambiente.

Fui visitar o Salão de Motocicleta na semana passada, em SP e não peguei trânsito nenhum, mas em compensação, sai de casa no, Rio, as 11 horas da manhã, toda vestida de verde, da cabeça aos pés (até a minha bota era verde) para votar, onde voto desde que comecei a votar na vida, no Gávea Golf Club, que fica ao lado da minha casa.

Lá nunca peguei “engarrafamento” e sempre a votação é simples e rápida. Não mudou esse ano. Votei em menos de 5 minutos. Tinha um vôo marcado para as 13:15 hs no aeroporto Santos Dummont. Saí de São Conrado por volta das 11:30 hs e só consegui pegar o vôo das 15:45 hs. Dá para acreditar nisso?

Eu tive que pagar uma diferença na minha passagem (multas etc., por causa de mudança) e chegar à SP atrasada para um compromisso de almoço que eu tinha.

É no mínimo absurdo, ficar num engarrafamento, em pleno Domingo como se fica em todos os dias da semana.

Eu já estava fortemente inclinada a comprar uma moto por causa disso e quando cheguei ao Salão, já estava totalmente convencida.

Vi lançamentos magníficos e um deles foi a Piaggio MP3. Uma moto que tem três rodas. Só que duas são na frente. Fiquei maravilhada com a tecnologia da motocicleta. As rodas são independentes, então ela se locomove exatamente como uma motocicleta, mas com muito mais segurança.

O problema é o preço: R$ 40.000,00.

Que pena. Se não fosse isso, podem estar certos, que era numa dessas que eu estaria montada.

E fiquei me perguntando, por que não existe uma facilitação do governo para diminuir os custos de importação e incentivo para fabricação no Brasil de mais veículos alternativos para as grandes cidades.

Tive contato com as novas scooters elétricas, que consomem pouquíssima energia e novas motos e scooters a gasolina que consomem por volta de 30 km/l o que já ajuda demais.

O que mais vemos são milhares de automóveis com uma pessoa só a bordo. Por que não usar uma moto por exemplo?

Resolveríamos a questão dos constantes engarrafamentos, assim como problemas com estacionamento e estaríamos contribuindo para a diminuição de consumo de combustível. Isso sem falar no que resultaria no bolso de cada um.

O nosso governador voltou da França maravilhado com as bicicletas. Sem dúvida é sensacional, mas como exigir de uma pessoa que mora na Barra, ir para o centro da cidade de bicicleta? E ele vai resolver a questão dos roubos de bicicleta?

Bem, quero aproveitar para apresentar o novo comercial da Honda que faz a gente pensar um pouco nessa história toda de petróleo.

Eu já faço a minha parte e sou motociclista desde a minha adolescência. Hoje em dia na cidade, uso uma maxi scooter, o veiculo apropriado para o nosso trânsito.

E você não se candidata?

O bom, o mal e o feio – Ennio Moricone

A Internet

Já escrevi que sempre comentarei a importância da Internet nas nossas vidas, mas o trabalho que ela vem fazendo nas eleições desse ano é surpreendente.

Mais do que nos passar informações de todos os tipos, das da gargalhada as de ânsia de vômito (o que, infelizmente, no momento atual político, insiste em ser a principal), os nossos grupos de correspondência eletrônica tem a responsabilidade de nos fazer lembrar o tempo todo das atrocidades.

Num país em que somos educados para sermos desmemoriados, como o nosso, o trabalho feito por pessoas que ficam mandando mensagens repetidas, fabuloso.

Para mim, que me lembro de tudo é muito chato, mas tem um botão no teclado com a palavra DEL escrita que resolve essa questão rapidinho.

Gosto de me lembrar mais do que é positivo na rede do que o que é negativo. Do que a Internet nos trouxe de bom.

Sim, porque o que nos é enviado de informação por correio eletrônico, fora a que temos acesso através de sites de busca, são enciclopédias atualizadas em segundos.

Dependendo do número de grupos ou pessoas que você está ligado, a ida e volta de informações é feita com muita velocidade.

Durante todo esse período de eleições, fizemos um trabalho – todos nós que estamos “plugados”-  admirável.

Esse momento que estamos atravessando talvez seja um dos maiores movimentos brasileiros, depois da chegada da Internet no Brasil.

Essa mobilização pela rede é muito bacana mesmo.

Pena, não ser de livre acesso a todos.

Pena, que qualquer tipo de instrução, educação, cultura e informação não seja, REALMENTE, livre a todos.

Me lembro que, quando pré-adolescente, me ensinaram uma frase que dizia “a maior arma de um povo é o livro”.

Depois que ouvi isso, olhei para os lados e vi como o meu país fazia tão pouco pelo seu povo.

Fui crescendo e fui reparando que muito pouco continua sendo feito até hoje e lá se vai quase meio século que eu nasci.

Quando conseguiremos parar com esse processo?

Quando vamos nos esforçar para ver cumprida a promessa de dar educação para as pessoas entenderem o que é ser patriota?

O que é ser orgulhoso de viver no país que nasceu?

O que é ser humano?

O que é ser filho de Deus e entender seus direitos de ser pensante como assim determinou o criador?

Que fé é essa que se espalha pelo mundo que não respeita nem a lei principal da existência – respeito a vida?

Então, quero parabenizar a todos nós, que nos mantivemos alertas na frente de nossos teclados, escrevendo e passando todas as informações que tivemos acesso para termos mais subsídios na ajuda de escolher uma opção melhor.

Dos nossos monitores, as informações foram pouco a pouco chegando as salas da tia, do filho, dos amigos, nas festas, nas salas de aula, no carrinho de pipoca, nos bares e seria muito bom que pudéssemos levar para as ruas.

Todas as ruas.

Que virássemos todos uns seres aranhas, voando com nossas teias por todos as cabeças.

Que pudéssemos fazer o papel da Internet e levar o máximo de informação a todos que fazem parte do nosso círculo. Não importa se você acha que, a quem você vai falar,  não vai entender.

Não menospreze ninguém.

Você vai se surpreender.

E o planeta vai agradecer.

Rio de  Janeiro,  05 de outubro 2006

Privacidade I

No primeiro texto desse blog, eu disse que iria voltar a falar do assunto privacidade e aqui vou eu.

Sei que não vou conseguir falar desse assunto tão polemico num texto único.

Portanto vou voltar a esse assunto diversas vezes, porque sei que o desrespeito a privacidade continuará acontecendo sem que tenhamos força para mudar isso.

Sou conhecedora de que a vida do outro gera uma curiosidade impressionante, até mesmo naqueles que tem sua vida repleta de emoções.

Somos mesmo voyers na vida.

Eu, pelo menos, sou. Assumidamente uma voyese.

Não da vida alheia propriamente dita, mas assistir intimidades é um esporte muito bom.

Faço parte de uma comunidade de amigos na Internet e nos comunicamos várias vezes por dia, durante o ano inteiro.

Passamos informações, na sua maioria políticas, fotos interessantes, vídeos engraçadíssimos e damos muita opinião sobre tudo que recebemos.

Então fica um papo danado que a comunidade toda comparece.

Alias, como temos opinião a dar.

Nossa, se fossem por todas as nossas opiniões, os problemas do Brasil e do mundo já estariam solucionados.

Claro que chegou a minha caixa o famoso vídeo da Cicarelli.

Eu não me preocupei em ver na hora que recebi, pois estava com muitos afazeres mais importantes, mas esse fim-de-semana resolvi assistir as calientes cenas de Tato e Cicarelli.

Não vi nada demais, não achei que tivesse nada que pudesse agredir ninguém e o mais importante é que eles não estavam fazendo nada diferente do que eu (e muita gente) já tenha feito.

Para ser mais precisa, exatamente igual.

Eles não inventaram nada.

São figuras bonitas e parecendo apaixonadas.

A discussão agora é meter o cacete (sem piadinhas) neles porque fizeram em público.

O que todos esquecem é que esse público não se indignou. Não reclamou e não teria visto se não tivesse sido colocado na Internet.

Que jogue a primeira pedra quem gosta do esporte e nunca namorou numa praia.

Vamos combinar que isso é normal.

Então a discussão tem que ser que o desrespeito mesmo foi de quem filmou e colocou na Internet.

Acho que quem fez isso está precisando de alguém que a(o) faça trocar carícias em publico, sem agredir as pessoas ao redor, para que a felicidade dela(e) não seja a exploração da imagem dos outros.

Vocês, por acaso, se lembram do que aconteceu com Lady Di?

É mesmo uma loucura ser perseguido, sem poder ter uma vida como todo mundo tem.

Sei que o preço da fama é alto, mas tem que ter um limite.

Ou você vive o risco da sua imagem ser explorada dessa forma, ou não sai de casa.

Há muito tempo que minha escolha foi sair o menos possível de casa.

Há muito tempo que minha decisão foi não passar para uma assessoria de imprensa cada passo que dou, como muitos dos meus colegas fazem.

Tem gente que não sai de casa sem avisar o itinerário para que os fotógrafos possam acompanhar.

Tudo para permanecer nos noticiários.

Essa atitude acaba levando a uma liberdade da imprensa de vasculhar sua vida o tempo inteiro, sem cerimônia.

Depois não tem o direito de reclamar, os jornalistas estarão certos de ficarem atrás, seguindo, subindo em muros, escadas de incêndios e afins.

Eu já estive em companhia de pessoas mundialmente famosas e não vi nenhum paparazzo atrás dos lugares inusitados que íamos.

Claro que você pode esperar jornalistas em estréias, em acontecimentos sociais. É totalmente esperado.

Se as pessoas famosas tivessem mais parcimônia em sua comunicação com a imprensa, a própria imprensa estaria mais folgada para dar notícias de outras pessoas que não estão habitualmente na mídia e que estão fazendo belos trabalhos por aí.

A imprensa se defende dizendo que não dá notícia de quem não está na mídia.

Ora bolas e quem é a mídia?

Será possível que temos que ter sempre a mesma discussão sobre o ovo e a galinha?

A televisão está dando o seu pior desde sua primeira transmissão nos anos 50 e insiste em dizer que está dando o que o público quer.

Mas não é a TV que decide o que dar?

Por que as TVs não se reúnem e tentam fazer um acordo de qualidade para ofertar ao seu público uma melhor programação?

Esse público que é quem as sustenta.

Eles não deveriam ser mais bem tratados?

E num país de tantos sem acesso a educação e informação, não seria uma maneira de fazer esse quadro mudar?

Aliás, não foi para isso que o rádio e a TV foram criados?

Saí um pouco do meu trilho, mas é que na verdade, tudo é a mesma coisa.

Estamos cada vez mais, voltando a maneira antiga de conduzir um povo, através de sua ignorância.

O perigo é enorme e devemos nos preocupar em fazer alguma coisa para mudar isso.

E quanto a Internet, não passa de um faroeste antigo. Uma cidade sem lei, que cada um tem que se virar da melhor forma. Essa melhor forma é discutível e ainda não entendi bem qual é.

Todos os passos que damos são  monitorados. Não temos mais nenhuma privacidade.

Não adianta colocar anti-spans, não adianta não responder questionários.

É um mundo faminto e invasor.

Mas também, não podemos reclamar de não haver punição na Internet.

Não temos punição em lugar nenhum…

Ubaldo, meu amigo, adorei sua definição para merda no seu artigo de Domingo.

Rio de Janeiro , 25 de setembro de 2006

POR QUE OS ARTISTAS BEBEM?

Na frente da Rede Globo do Jardim Botânico ou Emissora (como chamávamos na época) – aliás ela tinha dois nomes, a parte da Rua Von Martius (onde ficavam os estúdios) era Emissora e a parte da Rua Lopes Quintas, (onde ficam, até hoje, parte dos escritórios da diretoria) de Vênus Platinada – mas na frente da parte dos estúdios, havia uma pequena banca de jornal, exatamente entre a Emissora e a Padaria Século XX, onde sempre acabávamos “pendurados” em cartazes nos fundos da banca. Quando chegávamos olhávamos bem para saber para saber o que tinha saído de fofoca a nosso respeito e chegar com a defesa pronta no famoso corredor.

Era o corredor que ficavam os estúdios.

Esse corredor era um caso a parte, pois como tinham 3 estúdios (A, B e C), onde eram gravadas as três novelas, das 18, 19 e 20 horas e os camarins, com todos os seus atores, dá para imaginar a confusão, não?

E ainda tinha uma época que a imprensa podia ficar ali também. Quer dizer, nada podia ser dito, nenhuma brincadeira, ou olhares que no dia seguinte estava publicado.

Nós nos dividíamos em cadeiras de plástico preto, ligadas por uma barra de ferro. Parecia uma repartição pública, sabe como é? Elas não se separavam e nós ficávamos como xifópagos. Então passar por esse corredor era uma prova de confiança em seu próprio taco, sem precedentes.

A maneira como você chegava determinava o resto do seu dia ali dentro.

No fundo, até que era muito divertido. Um grande exercício.

Gravar naquelas circunstâncias era uma loucura, mas mantínhamos uma frente de 20 capítulos na maior parte do tempo de uma novela, o que hoje em dia é muito difícil de acontecer, mesmo tendo o conforto do Projac com seus inúmeros estúdios.

Ter essa frente significava que tínhamos tempo para errar e corrigir.

Fazer uma novela com frente nenhuma é de um perigo enorme.

Mas esse é outro assunto.

O fato é que, um dia chegando para trabalhar, vi pregado na banca de jornal, enormes cartazes da Revista Amiga (que chamávamos carinhosamente de Inimiga), que trazia a seguinte reportagem: PORQUE OS ARTISTAS BEBEM?

Ora essa.

Fiquei indignada.

Como assim os artistas bebem?

O que significa essa reportagem?

Podem acreditar que fazem uma chamada de capa de revista com essa manchete?

Alguém parou e decidiu essa pauta para uma matéria. Pode?

Não devia poder, mas pôde.

Não consigo me lembrar de nada dessa matéria tamanha a minha indignação, mas até hoje penso no tema.

Não vou me ater a discutir sobre os bancários, vendedores de livros, gerentes financeiros, jornalistas, faxineiras, médicos, mendigos ou qualquer outro mais que beba.

Para dizer a verdade, nem vou discutir sobre porque se bebe ou não.

Por que se fuma?

Por que se conta piada? Por que ouvimos música? Por que vamos a festas?

Ora, porque tudo é absolutamente normal, apenas em nós artistas, vira um grande escândalo.

Então quero apenas discutir sobre a nossa dificuldade de viver num mundo padronizado com regras estipuladas por quem não nos perguntou o que achávamos (assunto que será recorrente em demasia em meu blog, podem se acostumar).

Essa dificuldade não é propriedade dos artistas e sim de qualquer um que pensa e que se oponha a essas regras.

A diferença é que nós artistas vendemos emoções. Isso é muito diferente de vender qualquer tipo de matéria física.

Emoções são sentimentos. Não podem ser tocados, expostos em vitrine. Você toca ou não o outro com a verdade de sua arte.

A arte sim é a diferença.

Tenho uma verdadeira adoração pelo escritor Plínio Marcos. É um dos maiores brasileiros nas artes, na minha opinião.

É dele o texto que considero a maior explicação do que é ser ator. Adoraria transcrever todo ele aqui, mas não sei se posso, então vou colocar alguns trechos como:

 

“…Mas o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade e sobretudo em transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.”

 

Pois é, se despir do que somos e nos vestirmos do que vamos “vender”. Essa é a função do artista.

 

“Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor.”

 

Hoje, particularmente, resolvi falar disso por causa da matéria do segundo caderno do O Globo, sobre o lançamento do CD e gravação do DVD da Ângela RoRo.

Claro que na matéria, não se deixa esquecer que ela já foi personagem de alguns escândalos, que ela bebeu muito, muitas vezes, que ela se drogou, outras tantas…

E daí?

O fundamental é que ela é uma artista genial.

Uma compositora como poucas, uma mulher extremamente inteligente, de uma rapidez de raciocínio invejável – e para isso tem que se ter muita cultura e inteligência -, dona de um senso de humor que na maior parte das vezes destila seu fel contra ela mesma e além de tudo uma cantora e tanto.

Isso me lembra a capa da revista semanal de maior circulação do Brasil, quando da morte de Elis Regina.

Essa imagem não sai da minha cabeça, por mais que tente durante todos esses anos, pois a indignação que me deu foi a mesma de quando eu vi na banca, POR QUE OS ARTISTAS BEBEM?.

Era uma capa preta, com a Elis de braços abertos como uma redentora, vestida de branco. No rodapé, em letras imensas estava escrito em vermelho a palavra COCAÍNA.

Sem comentários, apenas uma pergunta, não poderia estar escrito, perdemos a nossa maior cantora.

Espero que ninguém se esqueça de que são da Ro Ro os versos a seguir:

 

“Por que queimar minha fogueira?

E destruir a companheira

Por que sangrar o meu amor assim?

Não penses ter a vida inteira

Para esconder teu coração

Mas breve que o tempo passa

Vem de galope o meu perdão

 

Por que temer a minha fêmea?

Se a possuis como ninguém

A cada bem do mal do amor em mim

Não penses ter a vida inteira

Para roubar meu coração

Cada vez é a primeira

Do teu também serás ladrão

 

Deixa eu cantar

Aquela velha história, amor

Deixa penar, a liberdade está também na dor

 

Eu vivo a vida, a vida inteira

A descobrir o que é o amor

Leve pulsar do sol a me queimar

Não penso ter a vida inteira

Pra guiar meu coração

Sei que a vida é passageira

E o amor que eu tenho, não!

 

Quero ofertar

A minha outra face à dor

Deixa eu sonhar com a tua outra face, amor.”

 

É duro, como num país sem memória nós precisamos ficar lembrando dos artistas pelos seus escândalos e não pela sua genialidade.

 

Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2006.

Bem Vindo ao Blog

Apesar de ter entrado no mundo da informática em 1991 e ter começado minha incursão nessa fabulosa “teia de informação planetária” logo depois – já que fui a primeira atriz brasileira a ter um site oficial na Internet, em 1996 – nunca havia pensado em ter um blog. Na verdade nem sabia direito nada sobre essa palavra.

Até que resolvi que devia usar esse método para expor meus pensamentos, pois me pareceu muito mais simples do que ficar escrevendo e-mails e decidindo quem da minha lista deveria ler o que eu acabara de escrever.

Daí, depois que colocaram meu blog no ar me perguntaram, o que você quer escrever?

Então sentei na frente do computador e pensei que, como primeiro texto na estreia do meu blog, eu queria falar sobre a própria Internet e todos os seus derivados, ou seja, o que significa estarmos fazendo parte dessa revolução na comunicação mundial.

Sabe o que significa, antes de qualquer outra coisa, representa uma volta ao tempo.

Durante um certo período, fomos obrigados – falo da minha geração e anteriores – a nos desgarrar dos métodos aos quais fomos acostumados no tempo de nossa infância.

Nossos pais ou avós mandavam que fôssemos a mercearia e apanhássemos 1 kg de açúcar. O dono da mercearia, já sabedor dos gostos de seus fregueses habituais, nos dizia que levássemos uma lata dos famosos pêssegos que vovó gostava tanto e que chegaram depois de uma falta longa.

Nem havia discussão, pois era comentário a falta deles nos jantares familiares e assim sem perguntar em casa, levávamos os famosos pêssegos para alegria de todos.

O dono da mercearia colocava os produtos que haviam sido levados anotados numa caderneta, que no final do mês era usada para a cobrança.

Isso era a forma que nos habituamos a viver.

Assim foi nossa infância e adolescência. De repente, começou a era de tratar a todos na coletividade.

Ou seja, as pessoas não eram mais conhecidas pelos donos de mercearia, que por sinal se transformaram em grandes supermercados, e o sujeito era tratado como mais um consumidor. Sem nenhuma individualidade.

A Internet trouxe de volta essa forma de tratar as pessoas como indivíduos únicos.

A cada página que você costuma visitar, toda vez que entra é cumprimentado por um Oi Fulano, boa tarde…

Você compra o que quer e dá o número do seu cartão de crédito, que nada mais é do que a caderneta do dono da mercearia, com cobranças mensais.

E o site tem sempre outras opções para lhe mostrar de produtos que tenham identificação com os que você costuma comprar.

Evidentemente que não estamos tratando com o dono da mercearia que tinha uma relação de amizade contigo (a vizinhança iria até ao enterro dele), mas o efeito é o mesmo.

Os sites cruzam informações e tem um perfil do seu consumo.

Se você já experimentou comprar no Amazon.com sabe muito bem do que estou falando. Você compra um livro e logo depois recebe a informação de que outro livro, com o mesmo tipo de assunto, está a disposição para compra.

Sem falar na volta aos tempos com as cartas.

Isso é o que mais gosto.

O correio eletrônico.

Receber e enviar missivas.

Também é muito bom você saber que o correio não vai perder sua carta, você nem precisa se preocupar e nem gastar mais em registrar a sua carta, pois ela vai chegar.

O melhor, você só irá responder no seu tempo, pois ninguém nunca vai saber quando você abriu o seu computador. Isso pode demorar de minutos, horas, dias ou até meses, sem nenhum tipo de cobrança (as vezes).

Você pode resolver todos os assuntos que quiser no horário que você decidir. Não precisamos mais esperar para que as lojas abram para saber de alguma informação que você queira, basta mandar uma mensagem as 3 horas da manhã que quando você acordar ela já estará na sua caixa de mensagem e você já ganhou tempo com isso.

E por falar em tempo, a velocidade que temos da informação é uma loucura.

Você pode saber de tudo em fração de segundos.

Você tem todo tipo de informação que queira ter do planeta Terra a qualquer hora e mais rápido que os foguetes que assistíamos no cinema.

Uau! Isso é muito bom para quem adora informações como eu.

Acabaram nossos problemas de comunicação.

O velho guerreiro Chacrinha falava, quem não se comunica se trumbica. Imagina o que ele diria agora?

Nos dias de hoje, só não se comunica quem não quer.

Não adianta vir com essa idéia de que sua inabilidade com aparelhos é sinônimo de rebeldia as novas regras de comunicação, pois você já está mais do que ultrapassado.

Toma jeito. Compra um computador e vai aprender a mexer nele. Você não aprendeu a escrever?

Claro, que nem tudo são flores. Estamos sendo vigiados.

Não existe mais um passo que você dê que não seja devidamente notado e anotado.

É um perigo, não resta a menor dúvida, mas sempre temos que pagar um preço.

Aprendamos então, como aproveitar de tudo isso nos resguardando o máximo que pudermos.

Mas isso é um assunto que voltarei a tocar mais adiante.

Sejam bem vindos ao Lúcia Veríssimo blog.

Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1997