Bem Vindo ao Blog

Apesar de ter entrado no mundo da informática em 1991 e ter começado minha incursão nessa fabulosa “teia de informação planetária” logo depois – já que fui a primeira atriz brasileira a ter um site oficial na Internet, em 1996 – nunca havia pensado em ter um blog. Na verdade nem sabia direito nada sobre essa palavra.

Até que resolvi que devia usar esse método para expor meus pensamentos, pois me pareceu muito mais simples do que ficar escrevendo e-mails e decidindo quem da minha lista deveria ler o que eu acabara de escrever.

Daí, depois que colocaram meu blog no ar me perguntaram, o que você quer escrever?

Então sentei na frente do computador e pensei que, como primeiro texto na estreia do meu blog, eu queria falar sobre a própria Internet e todos os seus derivados, ou seja, o que significa estarmos fazendo parte dessa revolução na comunicação mundial.

Sabe o que significa, antes de qualquer outra coisa, representa uma volta ao tempo.

Durante um certo período, fomos obrigados – falo da minha geração e anteriores – a nos desgarrar dos métodos aos quais fomos acostumados no tempo de nossa infância.

Nossos pais ou avós mandavam que fôssemos a mercearia e apanhássemos 1 kg de açúcar. O dono da mercearia, já sabedor dos gostos de seus fregueses habituais, nos dizia que levássemos uma lata dos famosos pêssegos que vovó gostava tanto e que chegaram depois de uma falta longa.

Nem havia discussão, pois era comentário a falta deles nos jantares familiares e assim sem perguntar em casa, levávamos os famosos pêssegos para alegria de todos.

O dono da mercearia colocava os produtos que haviam sido levados anotados numa caderneta, que no final do mês era usada para a cobrança.

Isso era a forma que nos habituamos a viver.

Assim foi nossa infância e adolescência. De repente, começou a era de tratar a todos na coletividade.

Ou seja, as pessoas não eram mais conhecidas pelos donos de mercearia, que por sinal se transformaram em grandes supermercados, e o sujeito era tratado como mais um consumidor. Sem nenhuma individualidade.

A Internet trouxe de volta essa forma de tratar as pessoas como indivíduos únicos.

A cada página que você costuma visitar, toda vez que entra é cumprimentado por um Oi Fulano, boa tarde…

Você compra o que quer e dá o número do seu cartão de crédito, que nada mais é do que a caderneta do dono da mercearia, com cobranças mensais.

E o site tem sempre outras opções para lhe mostrar de produtos que tenham identificação com os que você costuma comprar.

Evidentemente que não estamos tratando com o dono da mercearia que tinha uma relação de amizade contigo (a vizinhança iria até ao enterro dele), mas o efeito é o mesmo.

Os sites cruzam informações e tem um perfil do seu consumo.

Se você já experimentou comprar no Amazon.com sabe muito bem do que estou falando. Você compra um livro e logo depois recebe a informação de que outro livro, com o mesmo tipo de assunto, está a disposição para compra.

Sem falar na volta aos tempos com as cartas.

Isso é o que mais gosto.

O correio eletrônico.

Receber e enviar missivas.

Também é muito bom você saber que o correio não vai perder sua carta, você nem precisa se preocupar e nem gastar mais em registrar a sua carta, pois ela vai chegar.

O melhor, você só irá responder no seu tempo, pois ninguém nunca vai saber quando você abriu o seu computador. Isso pode demorar de minutos, horas, dias ou até meses, sem nenhum tipo de cobrança (as vezes).

Você pode resolver todos os assuntos que quiser no horário que você decidir. Não precisamos mais esperar para que as lojas abram para saber de alguma informação que você queira, basta mandar uma mensagem as 3 horas da manhã que quando você acordar ela já estará na sua caixa de mensagem e você já ganhou tempo com isso.

E por falar em tempo, a velocidade que temos da informação é uma loucura.

Você pode saber de tudo em fração de segundos.

Você tem todo tipo de informação que queira ter do planeta Terra a qualquer hora e mais rápido que os foguetes que assistíamos no cinema.

Uau! Isso é muito bom para quem adora informações como eu.

Acabaram nossos problemas de comunicação.

O velho guerreiro Chacrinha falava, quem não se comunica se trumbica. Imagina o que ele diria agora?

Nos dias de hoje, só não se comunica quem não quer.

Não adianta vir com essa idéia de que sua inabilidade com aparelhos é sinônimo de rebeldia as novas regras de comunicação, pois você já está mais do que ultrapassado.

Toma jeito. Compra um computador e vai aprender a mexer nele. Você não aprendeu a escrever?

Claro, que nem tudo são flores. Estamos sendo vigiados.

Não existe mais um passo que você dê que não seja devidamente notado e anotado.

É um perigo, não resta a menor dúvida, mas sempre temos que pagar um preço.

Aprendamos então, como aproveitar de tudo isso nos resguardando o máximo que pudermos.

Mas isso é um assunto que voltarei a tocar mais adiante.

Sejam bem vindos ao Lúcia Veríssimo blog.

Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1997