CONSTRUÇÃO X DESCONSTRUÇÃO

No último texto que postei, eu falava na desconstrução que muitas vezes somos obrigados a experimentar, para entender algumas pessoas que nos relacionamos não são o que apresentavam.

Recebi um comentário que questionava se a pessoa é que se mostra outra ou nós que inventamos o que queremos.

Sem dúvida as duas versões existem, às vezes, até ao mesmo tempo.

De uma forma ou de outra, qualquer separação é dolorosa. Se conhecemos tão bem quem esteve ao nosso lado é difícil, imagine descobrir que você esteve com alguém que nem existia. Que era puro fruto da sua criatividade ou disfarce do outro. Ou ambos.

A dor existe sempre, só fica pior, se você além de suportar a separação, ainda tem que DESCONSTRUIR. Foi isso que eu quis dizer.

O fato é que, quando decidimos nos relacionar e construir um casamento acreditamos nele.

Pelo menos eu, quando me proponho a casar, não acho que é por um tempo determinado. Quando isso vai por água abaixo, a primeira sensação que temos é de frustração.

Depois a gente fica querendo entender o incompreensível. E esquecemos que as coisas são como tem que ser.

Mas por não termos que admitir o foco errado que damos, começamos a pensar em todas as dificuldades que fizeram com que aquela relação não tivesse dado certo.

Aí vem você enxergar o outro por completo e muitas vezes chegamos a conclusão que construímos alguém que não existe.

Esse é um assunto com muitas vertentes mesmo.

Coloco abaixo uma música que retrata bem o dia seguinte de uma resolução de separação.

No próximo post vou falar sobre a reciprocidade, ou melhor, amor correspondido ou não.

https://youtu.be/RS_V-u1tXKo

 

AMOR RECÍPROCO

“As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveria viagens nem aventuras nem novas descobertas.” – Voltaire

Depois de um período de crença na união eterna, a vida vem e nos atropela. Vem mostrar que depois que lutamos tanto por liberdade e tornamos tão fácil o casar e descasar, manter as relações por tempos longos precisa apenas e tão somente, que seja um desejo, concreto, de ambas as partes, é claro.

No meu entender, antigamente os casamentos podiam ser mantidos apenas por um dos lados, geralmente o lado da mulher que calava e aceitava, contornava e se submetia as vontades de seu “amo”.

Depois de queimarmos nossos sutiãs, também queimamos essa falsa responsabilidade que foi impingida a mulher, de ser a apaziguadora e pilar da manutenção do “lar e da família”.

Agora a responsabilidade é igual para os dois lados e aí, ficou mais complicado.

As relações são verdadeiros palcos de aprendizado para benevolência, generosidade, altruísmo, entrega e acima de tudo crença de que, juntos, poderemos conquistar o mundo.

Um sentimento como esse tem que ser encarado como algo precioso e que deve ser tratado com toda a diligência e sobriedade que uma proposta como essa impõe.

O erro são as distorções de visão que o amor é capaz de criar. A tal da cegueira diante dos fatos. O se iludir, se deixar enganar.

Seu amor é tanto que você não quer enxergar que algumas vezes o outro não tem a mesma intenção que você. Ou então, o pior, você acredita que seu amor é grande o suficiente para contagiar seu ser amado.

Fica determinado, portanto, que não resta outro destino a não ser amargura, angústia e uma ansiedade de levar qualquer um a loucura.

Por mais que você não queira, cobra. É natural. Afinal você está lutando por algo que acredita ser recíproco e verdadeiro.

Pronto, está determinado o final.

De repente, a ficha cai. Algumas vezes o outro comete grandes erros e você passa por cima, em nome dessa crença, mas tem um momento qualquer que dá um clic, uma frase boba, uma palavra jogada, uma falta numa hora importante (amor é presença) e você se toca que quem está cometendo um grande erro é você mesmo.

Aí o tombo é grande. Ter que se convencer que sempre esteve errado. Perceber o quanto você deve ter tornado a vida desconfortável para o seu amor, por somente cobrar o que nunca foi disposto a ser pago.

Resta então, a coragem de partir mesmo que por dentro, esse amor ainda grite e implore pelo ser amado.

E a vida continua… As crenças, erros, acertos e quem sabe assim, chegar onde se espera.

A melhor cura para o amor é ainda aquele remédio eterno: amor retribuído – Nietzsche

A Influência da televisão

Quando a televisão chegou ao Brasil em 1950, a regra básica de concessão era a informação e não o entretenimento. Portanto, a TV foi criada para ser, acima de qualquer outro aspecto, um veículo para levar informação ao povo. Ou seja, ela tinha um compromisso social importantíssimo.

É certo que a informação pode ser dada de muitas formas e sem dúvida, utilizar a diversão é a melhor, pois você consegue atenção maior. Então ela passou a cumprir seu papel com entretenimento.

Imagine que para o nosso povo, numa desigualdade social como a que vivemos, a TV se torna o teatro, o cinema e muitas vezes a sala de aula.

É uma pena, pois o ideal seria que nosso povo tivesse contato com a TV sem que fossem ceifado o contato com os outros tipos de veículos,  mas isso é um outro assunto.

Nós produtores de teatro e atores, estamos lutando para a melhoria da lei dos 50% nas bilheterias.

Hoje em dia, essa lei nos obriga a vender a meia entrada, para diversos segmentos, que na verdade não precisariam desse desconto.

E não solucionamos o problema do nosso povo ir ao teatro.

Esse assunto sobre a meia entrada é muito complexo e vou querer conversar sobre ele com mais profundidade, então vamos deixar para depois. O que quero agora é mesmo falar da qualidade do que apresentamos na nossa TV.

É certo que a cada dia, a necessidade de se nivelar, por baixo, a programação televisiva em busca da audiência virou uma regra e com isso a qualidade que um dia alcançamos está correndo seríssimo risco de se perder, isso sem falar do total esquecimento da regra básica para que foi criada – a informação.

Boa semana para todos.

 

 

 

DESCONSTRUÇÕES

Nossas certezas estão sempre sendo colocadas em cheque e assim vamos sendo obrigados a não só enxergarmos as coisas de forma diferente, assim como nos adaptarmos as novas formas.

Principalmente no amor, estamos sempre sujeitos a depreciações e novas visões.

Martha Medeiros tem me surpreendido diversas vezes por sua forma direta de descrever algo.

Eu que tenho o hábito de ser tão prolixa e rodear tanto antes de chegar ao que eu queria dizer, adorei quando chegou a mim esse texto que quero dividir com vocês.

É assim mesmo. Quantas desconstruções vamos sendo obrigados a passar, não é mesmo?!

Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela “vende” de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos. Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa “inventou” um personagem e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.

Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo. Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico. Ok, é natural que, numa aproximação, a gente “venda” mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é no começo. Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.

Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.

A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé”.

 

 

É O AMOR, TEREI DE ME ESCONDER OU FUGIR.

Após uma linda noite estrelada, dividida com grandes amigos, conversas afiadas e gargalhadas, acordo nesse sábado com um sol gloriosamente fresco.

E não pode existir nada mais confortável em matéria de clima do que essa equação sol e frescor.

Isso já me deu alegria.

Sono para mim é fundamental e nos últimos tempos tenho dormido muito pouco, não sei se pela fase cheia de coisas na cabeça (essa ansiedade) ou pela idade. Dizem que vamos dormindo menos quando vamos ficando mais velhos. Não consigo entender isso, pois devia ser ao contrário, não?

De uma forma ou de outra, ainda sou uma jovem e sono é um estado precioso.

Mas mesmo tendo tido apenas 4 horas de sono, “eu abri as cortinas e esse sol entrou”.

Quero sempre essa luz, pois sei para que todo esse azul.

Me muni de livros revistas e jornal e fui ao encontro desse ser formoso, resplandecente que aguardava para aquecer meus sonhos e ossos.

Nessa delicia que foi minha manhã de hoje, esbarrei nesse trecho do poema “O Ameaçado” de Jorge Luis Borges que vou deitar aqui como forma de agradecimento.

“É O AMOR, TEREI QUE ME ESCONDER OU FUGIR.

É, EU SEI, O AMOR. A ANSIEDADE E O ALIVIO DE OUVIR TUA VOZ, A ESPERA E A MEMÓRIA, O HORROR DE VIVER NO SUCESSIVO.

É O AMOR COM SUAS MITOLOGIAS, COM SUAS PEQUENAS MAGIAS INÚTEIS.

HÁ UMA ESQUINA PELA QUAL NÃO ME ATREVO A PASSAR.”

NÃO POSSO DEIXAR DE DIVIDIR COM VOCÊS O MEU VISUAL NESSE DIA, PORQUE HOJE É SÁBADO.

 

OS JUÍZES DA VERDADE

“Quem decidir se colocar como juiz da verdade e do Conhecimento é naufragado pela gargalhada dos deuses.”  Albert Einstein

Todos os dias continuo me deparando com os juízes da verdade que, em nome de Deus (sempre Deus, coitado, que não pode se defender das atrocidades que são cometidas em seu nome), continuam defendendo, do alto de sua grande insegurança, regras e “tratados” religiosos insistindo na exclusão das minorias e muitas vezes na descoberta de tratamentos médicos para cura do que consideram anomalias.

Anômalos são os que pensam que não rezar na mesma cartilha é um achaque.

Essas posições radicais e tão distantes do amor ao próximo é que são as reais anomalias.

Quero crer que essa nova investida, no cinema como exemplo Milk (de Gus Van Sant), de documentários como Por Que a Bíblia me Disse Assim (GNT), de livros como Salto Mortal (Marion Zimmer Bradley) estejam, novamente, tentando trazer a tona um assunto mais do que antigo e ainda nada resolvido que é o respeito às escolhas de cada um. Alias, assunto recorrente e, pelo menos eu, já tenho conhecimento dessa luta atravessando séculos.

Recebi recentemente um estudo que saiu na Inglaterra onde cientistas, imaginem só, afirmam que o homossexualismo pode ser curado através de tratamento.

Em primeiro lugar, quem disse que opção sexual é doença e precisa de tratamento?

Essa proposta foi feita pelo Dr. Michael King e os terapeutas que se dispuseram a ajudá-lo na tarefa ainda tentaram encontrar razão para justificar sua atitude, usando discursos, opiniões morais e religiosas pessoais sobre o assunto e ainda explicaram que estavam ajudando aqueles que a vida se tornou uma discriminação.

Por que então não ajudar, se juntando a tantos que querem justamente que essa discriminação termine e não fazendo coro as vozes dos “juízes falsos da verdade”?

O mais engraçado é que o próprio Dr. King quando aborda seus pacientes, afirma a eles que não há, absolutamente, nada patológico em sua orientação sexual, mas que quer ajudá-los a deixarem de ser homossexuais para deixarem de sofrer com discriminações.

Ops, essa foi demais para o meu entendimento. Só se for para rir e eu não entendi. Em pleno o século XXI ler um absurdo desses.

E já que estou falando em prisões, me pediram para dar minha opinião sobre zoológicos e acho absolutamente pertinente responder a esse questionamento dentro desse mesmo artigo, afinal, continuarei falando de caça e apreensão.

Zoológicos são espaços que me dão muita tristeza. Não gosto de animais presos. Isso me dá uma enorme agonia. No estatuto da minha Fazenda, que cada empregado recebe ao ser contratado, consta a proibição de animais presos, incluindo pássaros em gaiolas. O ser humano é mesmo muito louco. Se prende dentro dos seus medos e regras e acha que todos devem sofrer os mesmos infortúnios. Pegar um passarinho, um ser que pode voar (maior símbolo de liberdade que o homem inveja) e colocar num cubículo. Isso é de uma crueldade sem precedentes.

Não sou uma expert em zoológicos, mas tive a sorte de ter feito viagens pela África e pude vê-los soltos em seu ambiente, correndo pela selva, caçando e até copulando (caso de um casal de leões, que foi uma experiência bastante interessante para mim, poder assistir).

Mas pensem também na enorme quantidade de pessoas que nunca terão essa mesma sorte e que nem por isso não tenham o direto de ver esses animais de perto?

Mesmo porque, se as coisas continuarem como estão, em breve teremos que colocar até vaca em zoológico.

Acho mesmo que deveriam pensar na construção de grandes reservas estaduais, para que os animais pudessem ser observados como são na África. Soltos. E visitas seriam feitas em pequenos veículos próprios dessas reservas.

Existem milhares de fazendas que tem imensas áreas não produtivas  que poderiam muito bem servir à população, sendo adaptadas como reservas de animais.

Aqui no Rio o zoológico fica na Quinta da Boavista, ele não poderia ser numa reserva na baixada Fluminense, por exemplo? Ficaria perto e ali também está situada parte de uma reserva ambiental, o Parque do Tinguá. O passeio poderia ser completo. Visitar animais e meio ambiente.

Há anos não visito zoológicos, no Brasil. Levei meu amigo Anderson Müller, que me fez uma visita em Washington, quando eu estava por lá, ao zôo. O de lá é maravilhoso. Fica no coração da cidade, é imenso e as jaulas são infinitamente maiores, sendo que não tem grades. São grandes espaços resguardados por fossos e mesmo assim não me sinto a vontade.

Nunca fui ao Simba Safari (SP) e nem sei se ainda existe, mas dos zôos de sistema de confinamento que conheci no Brasil, o menos pior que visitei foi o zôo de Brasília. E olha que a última vez que fui visitá-lo foi em 1984. Não sei o que lhe aconteceu depois de tantos anos.

Também sei muito pouco a respeito dos outros zôos no Brasil. Mas acho mesmo que a melhor forma, para os animais, seriam grandes reservas estaduais.

É muito mais bonito vê-los reagindo conforme seus instintos em ambiente “natural”.

Assim como seria muito lindo os seres humanos, livres, agindo conforme seus instintos naturais, sem serem discriminados por isso.