MALUQUICES

Fui criada de forma a respeitar meus desejos e tendo liberdade de escolha. Essa liberdade de escolha que damos o nome de livre-arbítrio.

Sou daquelas que acredita que nós viemos com destinos acertados antes de nascermos para essa vida, mas os caminhos que iremos tomar para esse desfecho final é determinado por esse tal livre-arbítrio.

Meus pais sempre me disseram que as minhas escolhas deveriam ser feitas a partir do meu prazer, ou seja, que para que eu escolhesse determinado caminho, o mesmo deveria ser um caminho feliz, alegre e de muito prazer, fosse qual fosse.

Isso se refletiu em todas as minhas escolhas, inclusive nas profissionais.

Já aí, me considero uma pessoa extremamente sortuda, pois não é a todos que a vida proporciona uma escolha nesse aspecto.

Na verdade, minha primeira escolha profissional foi a música, já que meu pai é um músico.

Durante a minha infância era assaz famoso e nossa casa era um ponto de encontro dos principais expoentes da época.

Os ensaios do conjunto do meu pai, Os Cariocas, era feito na minha casa e para ser mais precisa, no meu quarto. Então foi lá que minha formação musical foi sendo talhada, graças a Deus.

Ali eu ouvia muito jazz, blues, samba-canção e bossa nova, é claro. Isso apurou meus ouvidos.

Estudei piano, violão e canto, mas não sou nada boa nisso, principalmente cantando.

Nos anos 90, fiz uma incursão pelo cenário fonográfico quando gravei meu primeiro e único disco.

Por certo não era o meu desejo, mas era um momento favorável para isso, pois eu era a explosão rural da época e não havia ninguém no Brasil que fazia um trabalho country. Era mais ou menos a fome com a vontade de comer, se bem que eu classifico como o fechamento de um ciclo dentro do mundo rural.

Eu já tinha a LV Western (cadeia de lojas country), fazia uma média de 4 shows semanais com cavalos e bailarinos, então porque não gravar o disco e juntar tudo no mesmo pacote.

E foi assim, para logo em seguida, eu mesma tirá-lo das lojas, por não ter suportado seu resultado.

Continuei trabalhando com música como produtora de shows de outros artistas. Sempre foi um ambiente que atuei com desenvoltura.

Agora, estou a pleno vapor na minha segunda incursão no mercado fonográfico. Decidi abrir uma gravadora e estou colocando no mercado meu primeiro produto da Canela (www.canelaproducoes.com.br).

Quero aproveitar para agradecer alguns amigos que acreditaram no projeto e quebraram não um galho, mas sim uma floresta.

Resolvi que vou homenagear a um por um em diversos textos e quero começar pelo Washington Olivetto.

Quero aproveitar para falar da minha relação com o Washington, que já tem mais de 20 anos. Temos muitos amigos em comum e por isso, sempre estávamos juntos em diversas ocasiões. Claro, que quando montei a LV Western foi ao Washington que fui procurar para que ele me ajudasse no marketing de lançamento.

Ele simplesmente deu a diretriz não só da LV Western, mas do marketing da minha vida inteira.

Aprendi com esse homem a administrar minha vida profissional e entender o que significa o marketing.

A cada momento que podemos estar juntos, me fascina sua rapidez de raciocínio e sua generosidade.

Ele não titubeia em lhe ajudar, pois esse homem acredita num mundo melhor. E para isso, nada melhor do que elevar o nível do que nos circunda, certo?

Então meu primeiro agradecimento vai para o Washington que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos decisivos na minha vida.

Um beijo meu queridão.

Lúcia Veríssimo

Rio de Janeiro, 14 de maio de 2008.

1808

Acabo de ler o livro do Laurentino Gomes, 1808.

Não há nele, nada do que eu, nas minhas pesquisas sobre o Brasil não soubesse, mas a maneira como ele escreve é deliciosa.

Devorei o livro em 4 dias e olha que tenho uma agenda super pesada de trabalho.

Quando produzi em película, a série para TV, Terra Brasil, aprofundei ainda mais as pesquisas sobre essa época do Brasil, pois como meu intuito era fazer um resgate cultural brasileiro, era de extrema importância que os programas tratassem de todos os aspectos da história desse país.

Fiquei muito impressionada na época, com milhares de detalhes que não são passados sobre nossas histórias, como por exemplo, a Guerra do Contestado, no norte do Paraná.

Foi na pesquisa que tive a informação de que foi nossa primeira guerra ecológica.

Ela não consta nos livros didáticos. Isso é uma loucura. Deveria ser mais bem estudada. Os detalhes dela são super instigantes.

Assim como a Guerra do Contestado, existem outros tantos assuntos que nunca foram trazidos à tona e que seriam muito importantes para a formação cultural da nossa sociedade.

Bem, por enquanto, queria pedir ao Laurentino que começasse a escrever um livro a partir desse momento em que D. Pedro I fica e dá prosseguimento a luta, já iniciada na época da saída do Rei D. João VI do Brasil, pela independência do nosso país. Eu adoraria que tivesse um livro escrito por ele que tratasse dos meandros dessa fase.

 

Rio de Janeiro, 05 de maio de 2008-05-05

Lúcia Veríssimo0

VOCÊ É TÃO VADIA QUANTO EU, POIS EU TE AMO E NEM ASSIM VOCÊ ME RESPEITA

Essa é uma das frases geniais de Miguel Falabella em seu primeiro filme como diretor.

“Polaroides Urbanas” é simplesmente comovente.

Fui à estréia e voltei essa semana para assisti-lo novamente e estou pronta para assistir muito mais vezes. Quero poder comprar o filme quando estiver a disposição. Não sou de comprar filmes, mas sempre que me apaixono por alguns filmes, os compro e guardo-os como relíquias, objetos de coleção. Polaroides Urbanas é um filme desse tipo para mim, assim como os filmes de Almodóvar, Fellini etc.

Eu fui apaixonada pelo texto de Como encher Um Biquini Selvagem, tão ricamente defendido por Cláudia Jimenez nos velhos tempos do Teatro Casa Grande, que, aliás, nos faz muita falta. Fui “n” vezes assisti-la.

Quando fui ao filme, a maior parte dos diálogos voltavam a minha mente como se eu os tivesse ouvido ontem.

Cláudia se dividia em todos os personagens o que era fantástico.

No filme eles são representados pelos melhores atores que poderiam ter sido escolhidos.

Seria leviano ir falando de um por um, pois TODOS estão fantásticos, sem exceção. Além de serem ótimos atores, claramente se sente a direção de um ator/diretor.

Isso faz mesmo toda a diferença.

Faz diferença uma pessoa como Miguel Falabella. Como poucos, aproveita cada oportunidade que a vida lhe oferece e corre atrás dos desafios com uma garra invejável.

O filme é maravilhoso, deliciosamente engraçado, emocionante, com produção impecável e um bom gosto danado.

Engraçado, se fala de tudo, nossos problemas afetivos, sociais, financeiros, familiares e não tem um tiro. Isso não é ótimo?

Não percam.

João Pessoa, 22 de março de 2008.

Lúcia Verissimo

BERMUDA 2

A pedidos, mais um pouco de Bermuda para vcs. Gostei bastante do comentário que nada melhor que visitar o museu do sexo e depois chegar a esse mar de Bermuda. Concordo plenamente.

Me lembrei de uma frase da Maysa Matarazzo. Ela tinha o hábito de colocar voz pela manhã, o que todas as cantoras não suportam. Ela defendia sua posição dizendo que gostava de levar aquela voz da cama para o estúdio, principalmente se tivesse tido “cama”.

Esse mar de Bermuda…

Foi em Bermuda também que assisti a estréia do filme Bernard and Doris, que conta a relação da bilionária Doris Duke com seu mordomo Bernard Lafferty.

Ralph Fiennes está magnífico no papel. Me lembrei, o tempo inteiro, do trabalho esplendoroso que Du Moscovis fez na peça Norma.

Aliás, sou completamente apaixonada pelo Du. Ele é um espetáculo, não?

E quanto a Doris, excepcionalmente defendida por Susan Sarandon, que é uma das atrizes por quem tenho a maior admiração. Como é bom vê-la atuando.

Esqueci de contar que também assisti ao Futuresex/Loveshow daquele eficientérrimo Justin Timberlake. Que show incrível. Vale a compra do DVD urgente.

Aliás, comprei o meu, toda feliz e fui mostrar ao meu amigo Bruno e ele me perguntou: você já tem o aparelho de Blue.Ray? A imbecil não viu que comprou o DVD errado.

Voltando a Bermuda, fui visitar umas cavernas que ficam situadas na Lagoa que existe no centro da ilha.

Essa lagoa tem o nome de Devil’s Hole (Buraco do Demônio). Sugestivo nome para um local, que dizem, é a casa dos Tubarões de Bermuda. Eu não vi nenhum, mas dizem que é lá que vivem.

COLOCAR FOTO com legenda  LAGOA

São duas impressionantes cavernas. Uma chamada Cystal Cave e a outra Fantasy Cave. Ambas com 64 metros abaixo do solo e com lagoas de 25 metros de profundidade. A entrada delas já é muito bacana.

FOTO DA ENTRADA DAS CAVERNAS com legenda ENTRADA EXTERNA DAS CAVERNAS

Primeiro visitei a Fantasy que foi descoberta em 1909, pelo proprietário do terreno onde ela se encontra, quando esse mandou que fizessem uma quadra de tênis para sua filha (aliás, como são apaixonados por tênis em Bermuda, tênis e golf, é claro). Quando estavam preparando o terreno, encontraram um buraco e desse buraco saía um ar frio. Chamaram o patrão e ele automaticamente desconfiou que ali, havia uma caverna. Abriram e descobriram uma maravilha, que despencavam imensas estalactites e estalagmites do teto e brilhava uma lagoa transparente no fundo.

FOTOS DA FANTASY com legenda ENTRADA DA FANTASY E FANTASY 1 e 2

A Crystal foi encontrada em 1907 por dois jovens que estavam jogando cricket e a bola caiu num buraco, eles enfiaram a mão para retirar a bola e não encontraram o fundo desse buraco. Sinal de que havia alguma coisa diferente por ali. As escavações começaram e encontraram uma enorme caverna. A Fantasy tem seu teto bem mais alto e a Crystal, pé direito mais baixo, porem a lagoa é maior.

 

COLOCAR FOTOS DA CRYSTAL com legenda Crystal 1, 2, 3, 4 e 5

MORAL OU A GRANDE FALTA DELA (“RELATIVO AOS COSTUMES”)

Segundo nosso querido Aurélio, a moral (feminino) é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. E o moral (masculino) o conjunto das nossas faculdades morais; brio, vergonha.

De acordo com José Ferrater Mora, em se tratando de ética (inteiramente identificada com o ou a moral), Aristóteles considerava que as virtudes éticas se desenvolvem na prática, são virtudes que servem para a realização da ordem na vida – a justiça, o valor, A AMIZADE, etc. A sabedoria e a prudência estão também nesse pacote.

Minha questão é: o que está acontecendo no mundo?

Onde está a moral das pessoas?

Só estou vendo sordidez e falta de amor ao outro no sentido mais amplo da palavra.

Só estou vendo o quanto todos estão afundando e se enxovalhando num mar de imoralidade ou melhor, amoralidade.

Essas mensagens de final do ano, então, são o fim. Todos falando um monte de mentiras. Li diversos textos e um deles, em especial, conclamava que a palavra de ordem era o respeito. Que respeito? Hipocrisia, isso sim.

Cadê a ação?

Onde está a vontade do ser humano de fazer algo de que, realmente, se orgulhe. Pensando na vida, não furtivamente e sim com a visão de que aqui, estamos tendo reais possibilidades de aprendizados maiores.

Em nome de muito pouco se põe a perder valores que nunca deveriam ser questionados.

Então, gostaria de pedir a todos que me ajudem a escrever sobre o que pensam e desejam dos amigos, amores, familiares, políticos, professores, patrões, empregados ou qualquer tipo de relação humana.

Onde vocês detectam mais facilmente essa falta de moral e ética que nos está assolando sem perdão?

A partir do que vocês me escreverem, vou abrir forte debate sobre a questão.

Agradeço a ajuda de todos vocês.

 

Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2008.

UM LEÃO POR DIA

Começamos o ano de 2008.

Acho que sempre nos munimos de uma grande esperança de que o ano que está por vir, será melhor do que o que foi embora.

Melhor assim, pois não podemos fazer nada para mantermos o outro mesmo. Não podemos, definitivamente, com o tempo. Esse é mesmo inexorável.

No caso de 2007/2008, eu, particularmente, acreditei mesmo nessa estória de que o ano novo vai ser muito melhor.

Numerologicamente falando, 2008 será o início de um novo ciclo. Tenho ouvido muitas pessoas comentando que o oito é o infinito e discordo desse pensamento. Temos que pensar no ano como um todo e a soma de 2008 é 1 e esse número é o que principia.

Não que o ano de 2007 tenha sido ruim, mas que o final do ano foi bem complicadinho, isso foi. Ele foi muito confuso e olha que pela quantidade de queixas que ouvi, parece que foi geral.

O 2007 foi para mim, um ano tipo início das águas quando se planta tudo que se quer colher no final delas. E sinto que plantei bem e a terra aceitou o plantio. Não tenho duvidas de que teremos excelente colheita no ano vindouro. E apesar de ter muito mais o que agradecer, ele fechou com chave de ouro, me surpreendendo com uma mudança para lá de conturbada. Porém, preciso mesmo aprender a lição que tantas vezes minha queridíssima Cláudia Magno repetiu, que “toda mudança é sempre para melhor”.

Por mais que, no momento em que estamos passando pela mudança seja bastante dolente, depois percebemos que foi até muito bom. Então, sigo firme no meu aprendizado.

Por essa razão, tenho que estar muito bem preparada para voltar a “matar um leão por dia” e re-conquistar minha posição. Acho que fiquei um pouco preguiçosa porque animal selvagem, quando domesticado, esquece o perigo.

Quero desejar a todos nós, um maravilhoso ano novo e que cada um pegue suas armas. Eu, há 10 anos já crio a artilharia perfeita para essa função, que são os meus Leões da Rhodesia, como vocês vão poder constatar na foto abaixo.

Que venham esses felinos.

Fazenda Independência, 04 de janeiro de 2008.

Lúcia Veríssimo

KASAMBA, o pai de todos, ORUM, seu filho mais novo, ILÊ IFÉ e NYANGA, suas filhas

SAMPA I

Claro que não me lembro do meu primeiro encontro com a cidade de São Paulo, pois meu pai sempre fez shows nessa cidade e eu sempre o acompanhei. Sei que meus pais me contam que a primeira viagem de avião se deu quando eu ainda tinha 2 meses e o itinerário era a cidade de São Paulo.

Também passei diversas temporadas na chácara de minha tia avó Rosa em São José dos Campos o que era normal dar uma esticada até a cidade de SP.

Mais me lembro muito bem quando meu pai foi convidado para montar o estúdio Scatena, na Rua Dona Veridiana. Eu tinha 11 anos e fui passar uma temporada com ele em Sampa. Esse foi o primeiro grande encontro com la ciudad.

Morávamos num apartamento de quatro quartos divididos da seguinte forma: o quarto do meu pai, o quarto do Lúcio Alves, o quarto do Badeco (aliás, um dia desses vou escrever só sobre o Badeco), a quem chamo até hoje de tio e um quarto para mim, o que era considerado o quarto da princesa.

Embora com pouca idade, eu era a dona daquela casa. Providenciava as compras, o que iria ser feito para comermos, arrumava a bagunça deles (que não era pouca), mantinha os armários impecáveis (sou filha da Yvonne), enfim brincava de casinha legal.

Foi nesse ano de 1969 que passei meu primeiro aniversário longe da minha mãe e dos meus amigos. Adoro festejar aniversário e eles sempre foram muito comemorados. Quando fiz 40 anos, o dia 11 de julho caiu num sábado e a festa começou na sexta e terminou na terça-feira seguinte.

Tem um detalhe, meus pais esperam bater 11 da manhã, hora de registro do meu nascimento, para fazer o maior alarde. Sempre a mesma coisa. Podem me dar os parabéns depois da meia noite, mas às 11 da manhã ficam disputando quem falará comigo. Se por acaso ligo para o meu pai antes dessa hora, ele sempre diz, minha filha você ainda não nasceu então daqui a pouco falo contigo.

Nesse aniversário de 11 anos eu acordei e não tinha mais ninguém em casa. Meu pai já tinha saído para trabalhar e deixado um bilhete para que eu fosse encontrar com ele, no estúdio, às 11 da manhã. Não havia nenhuma menção sobe o meu aniversário. Nenhum telefonema. Nada. Pensei, tem tão pouco tempo em SP e já se esqueceram de mim?

Sinceramente, fiquei desolada. Me senti tão abandonada. Acostumada a tantas festanças, estava aquela “princesa” solitária e desamparada.

Meus aniversários sempre são com chuva. Já me acostumei ao fato, principalmente se estou no Brasil. Claro, inverno é sinal de chuva por aqui.

Só para se ter uma idéia, quando fiz 30 anos, passei meu aniversário num barco em pleno verão Europeu. Naquele 11 de julho de 1988, essa manifestação da natureza se fez presente. A Córsega, amanheceu chuvosa. Fiquei sentada na proa do barco feliz que a companheira de tantos anos não havia se esquecido de mim, nem no Mediterrâneo.

Portanto, claro que, naquele dia de julho de 1969, em São Paulo chovia sem parar. Cumpri as minhas obrigações (que eram divertidas, imagina uma guria dessa idade comandando uma casa e funcionários?), vesti uma roupa quente, capa de chuva, galochas, me muni de um bom guarda-chuva e fui ao encontro do meu amado pai, preocupada em não me atrasar.

Meu pai é uma das pessoas mais chatas com horário que conheço.

No meio musical é famoso pela sua genialidade, severidade e pontualidade o que acaba dando problemas a muitos músicos que, como eu, não são um primor nesse quesito.

Às vezes computo a minha impontualidade, que hoje até está bastante atenuada, a uma rebeldia ao Severo – um dos apelidos do meu pai no meio artístico e o outro é Bill, como o Tom (Jobim) o chamava e eu também.

Meu pai marca hora assim: passo na esquina de tal rua com tal rua para lhe apanhar, as 15:46 hs. Parece horário de vôo norte americano. Eu sempre questiono, por que não as 15:30 ou 15:45?

Ele faz uma explicação enorme que o sinal da rua tal leva tantos minutos e ele vira não sei onde e mais um monte de detalhes que me deixam perplexa em pensar como uma pessoa é capaz desses cálculos.

O pior é que ele passa RIGOROSAMENTE naquela hora marcada e se você não tiver não conte com ele para uma volta no quarteirão, conte apenas com uma bela bronca na hora em que conseguir encontrar com ele.

Vocês imaginam o que está sendo para o Bill, que viaja sem parar para fazer show, os atuais e constantes atrasos dos aviões?

Coitado!!!

Então lá fui, em direção ao estúdio, preocupadíssima em chegar na hora certa.

Esse universo de estúdio permeia a minha existência desde os primeiros respiros. Comecei a incursão a esse ambiente na Rádio Nacional, onde eu ia acompanhar meu pai em seu trabalho. O que me fascinava era passar horas ao lado do sonoplasta e seus truques maravilhosos que eram capazes de imitar qualquer tipo de som. De patas de cavalo no chão de terra a chuva com tempestades assombrosas. Até hoje, meu grande sonho é fazer radio novela. Quem sabe um dia?

E da Rádio Nacional a milhares de estúdios, em muitos lugares pela a vida a fora. Estúdios acompanhando meu pai e depois, eu mesma atuando. Então, desde que nasci, esses espaços são parte de mim.

Aprendi, desde sempre, que quando a luz vermelha se acende, não podemos entrar naquele espaço, pois estão gravando e um barulhinho que seja, joga tudo por água abaixo. E quando se está dentro, o fazer silêncio é fundamental.

Cheguei ao estúdio com pontualidade e o segurança me pediu que eu entrasse. Contestei que a luz vermelha estava acesa. Ele insistiu para que eu entrasse que era ordem do meu pai.

Temerosa abri a porta e entrei, meu pai ergueu sua batuta e a orquestra atacou o mais lindo parabéns para você que escutei em toda a minha vida.

Foi essa, a primeira lembrança que tenho da cidade de São Paulo.

Quem tem uma memória como essa, dificilmente terá uma relação com essa cidade que não seja de amor.