ELTON OU BENJAMIN

Cheguei ao Rio, de onde estava longe desde dezembro do ano passado, com quatro dias antes do show do Elton John.

Já tinha me comprometido a ir e inclusive, havia convidado umas amigas que moram na Paraíba para irem comigo.

Assim que cheguei encontrei meu velho companheiro Kasamba (meu cão mais velho) com um desconforto. É o famoso olho do dono. Ninguém estava reparando nada. E no dia seguinte a minha chegada, ele já tinha piorado muito e o diagnóstico foi dado, megaesôfago. Doença que, para um ser da idade dele, não tem jeito mesmo.

Foram quatro dias ao seu lado sem pestanejar e dedicando toda a minha atenção àquele que dedicou seu amor a mim, sem restrições e economia, por treze anos. Infelizmente ele não está mais entre nós.

Não preciso dizer o quanto isso me entristeceu. Estou passando por problemas muito sérios e minha impressão é que o Kasamba deu sua parcela de ajuda, pegando uma grande parte dessa energia ruim.

Agora chega. Definitivamente, chega. Acabou e vira-se mais uma página.

Todos os amigos fizeram muita pressão para que eu não mudasse a minha agenda e fosse assistir ao show do Elton John.

Assim que cheguei, fui interceptada por um repórter para fazer aquelas mesmas perguntas de sempre:

  • Você gosta do Elton?

O que eu estaria fazendo num show de alguém que eu não gostasse?

  • O Elton sempre foi um extravagante no palco. Você sabe que ele não é mais assim, que você não vai encontrar aquele sujeito que pula em cima do piano e faz acrobacias, não é?

Sou daquelas que entende que as pessoas mudam, que elas vão caminhando e mudando. Ainda bem. Alias, adoro quem não tem medo de mudanças e aceita as que vêm naturalmente. Eu não gosto de um artista plástico, por exemplo, que só faz a mesma fase a vida inteira. Existem, eu não admiro. Não vamos esperar que um artista como Elton John fique querendo ter 20 poucos anos toda sua existência. Tudo muda e não devemos viver numa escravidão do que você foi e que tem que continuar sendo. Eu não tenho mais aquele corpo dos meus 20, 30 anos. Não sou mais a mesma pessoa, amadureci, graças a Deus e embora eu não seja um exemplo dessa ditadura da beleza sílfide que foi implantada no mundo, me sinto muito feliz da forma como cheguei aos meus 50 anos. Essa mania do brasileiro de que todo mundo tem que ficar igual para sempre é uma chatice. Deve ser para compensar sua falta de memória. E para o governo de todos, ele subiu no piano, sim.

  • Agora a pior das perguntas e que nunca falha, qual a música que você gosta mais?

Essa para mim é a pior mesmo. Nunca decoro nome de música. Sou capaz de cantar a música inteira, mas não decoro o nome. Nem das músicas que eu componho. Então tenho que ficar fazendo aquele papel ridículo de ficar cantarolando para alguém, dizer o nome da música. Um saco.

Agora quero fazer uma pergunta aos jornalistas, por que vocês têm mania de fazer entrevista antes do show? A gente vai poder dar uma entrevista muito melhor e com mais emoção depois de ter visto ao show. Acho que eles todos ficam loucos para se livrarem da obrigação e irem embora mais cedo. Deve ser isso.

Jornalistas (e eu sou uma também) a parte, o show foi lindo e ele foi um cavalheiro com os cariocas. Aliás, um verdadeiro Sir que é mesmo.

Em primeiro lugar, começou o show, como um bom britânico, exatamente na hora em que estava marcado para começar. Coisa que, definitivamente, nós brasileiros não estamos acostumados. Chegou vestindo sua casaca habitual e num calor enlouquecedor como só no Rio é capaz de fazer, ele tocou e cantou o show todo, sem tirá-la. Eu e meu amado amigo Eduardo Galvão, apostávamos em que música ele não mais suportaria o calor e tiraria a casaca. Minha amiga Lurdinha estava certa, Sir não tira casaca antes da festa acabar.

Parabéns pelo lindo show Sir Elton John e obrigada pela delicadeza, profissionalismo e genialidade.

Fui também, essa semana, assistir ao filme Benjamin.

Fiquei muito impressionada com os efeitos especiais e adoraria ver o making off dessas filmagens.

Você fazer uma maquilagem para o Brad Pitt ficar feio e velho, embora pareça difícil, não é. Tudo bem. Agora mudar o corpo dele é incrível.

Queria entender como aquilo foi feito.

O filme é lindo, muito triste e lindo. A temática interessantíssima. É um Dorian Gray ao contrário.

O sujeito nasce com uma doença e a vida em vez de começar com 1 dia de nascido, começa com 80 ou mais anos de idade. Ele nasce com catarata, artrose violenta, degeneração em diversos órgãos, todo enrugado e com o cabelo ralo e caindo, não nascendo.

O caminho é feito ao contrário e ele vai rejuvenescendo até morrer um bebe muito frágil.

Claro que nesse caminho ele descobre o amor e conseqüentemente a enorme dor de não poder viver esse amor, e, por quê? Simplesmente porque, as pessoas ao seu redor envelhecem.

Isso faz a gente pensar mais uma vez nessa busca desenfreada pela juventude eterna. Esse filme vem trazer à tona, justamente, a discussão sobre, envelhecer. Faz parte da vida sim e a gente tem que ver o outro lado que ela nos traz.

Adorei o enredo e adorei o filme. Embora muitas vezes inverossímil é muito interessante mesmo. Recomendo.

Agora quero fazer uma proposta, gostaria que vocês me dissessem sobre o que gostariam que eu escrevesse aqui? Não quero ficar afastada do blog e adoraria que me dissessem o que gostariam de encontrar por aqui.

Se forem contos, de que natureza? Se forem opiniões, sobre o que? Assunto, qual?

Vamos fazer essa parceria?

Lúcia Veríssimo

João Pessoa, 29 de janeiro de 2009.

 

Deixe uma resposta